Glen Hansard - Sleeping

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Renato Augustos.

Estava num dos meus melhores dias. Acordei de bom humor e um pouco mais cedo do que de costume. Tomei um banho mais demorado. Coloquei minha melhor camisa. Passei perfume. Meu dia seria espetacular.
Pedi para que meu pai me levasse para meu trabalho. Tudo estava calmo. Sossegado. Sentia uma paz interior maravilhosa. Uma felicidade claramente vista nos meus olhos, sorriso, quando falava. E há apenas uma razão para isso. O Renato.
Já namorávamos há seis anos. Quatro deles com ele morando fora do Brasil. Sempre trabalhando, estudando, conhecendo o mundo. Eu ficava aqui, cuidando das coisas e esquentando o lado da cama que ele costumava dormir.
Há uma semana ele me ligara rindo feito criança dizendo que conseguiu uma semana pra nos. A nossa semana preferida do mês de Julho, a semana que nos conhecemos. Inexplicável a sensação que senti ao saber. Faltava apenas um dia. Um. Para matar saudade de quase oito meses de ausência.
Sorrisos. O dia estava perfeito. E se algo chato acontecesse no meu dia eu pensava “ele esta vindo” e logo estampava aquele sorriso que so ele era capaz de provocar. Na saída do trabalho resolvi caminhar. Coloquei os fones de ouvido. Brandi Carlile. E cantarolei. Lembrando da ultima vez que o tive em meus braços.
Quem disse que consegui dormir naquela noite. Celular estava na mão. Olhava a cada cinco minutos. Desejando que ele tocasse. Certifiquei milhões de vezes a bateria. Tudo certo. Fiquei sonolento e acabei dormindo com ele no meu colo.
As dez horas do dia seguinte acordei com ele vibrando no meu colo. Atendi afoito:
“Alo!? Alo!?”
“Aposto que estava dormindo… (risos)”
Coração sobe a boca. Palavras somem. Olhos ficam rasos d´agua. Não consigo falar. Escutar aquele sorriso, era como se o sentisse na minha frente. Fechei os olhos por alguns segundos:
“Acorda cabeção…” – dizia ele
Rindo. Consigo emitir alguns ruídos.
“Oi meu amor”
“Ola. Dorminhoco. Acabei de chegar no Brasil. Tava morrendo de saudade da sua voz…”
Se eu, naquela hora, soubesse o que estaria para acontecer, teria dito tudo o que eu sentia. Nunca pensei, nem se quer passou pela minha cabeça, que seria a ultima vez que falaria com ele.
“Assim que chegar em casa, pego o carro e vou ai” – continuou “Não vejo a hora de te ver… te sentir… olhar esse sua carinha e irritado quando te provoco (risos)”
“Só não me provocar…”
“Di, eu te amo”
“Eu também te amo. muito”
“Te ligo no caminho… Vejo você em breve” – disse despedindo.
Dei uma respirada para me recompor. Tomei banho. Cantando. O tempo não passava. NO trabalho, contei no relógio as horas passando. Nas pausas no trabalho tentava ligar para o celular dele, mas caia na caixa postal. “ Ta na estrada. Viajando. Esta vindo. Esta no caminho” – pensava. Afinal, ele fazia essas brincadeiras pra me deixar mais ansioso e me pegar de surpresa.
Voltei pra casa. Era Onze horas da noite e ele ainda não apareceu. Celular fora de serviço. Uma chuva forte começou do nada, corri para fechar a janela. Um vento passou pela minha nuca e fez com que me arrepiasse. Pensei no Renato, nessa chuva, dirigindo.
Voltei para a sala. Coloquei os fones. Deitei no sofá. Dormi.

Acordei com falta de ar e com a musica ainda tocando no ouvido. Levanto assustado. Preocupado com a falta de ar, nunca me senti assim. Caminhei ate o quarto da minha mãe e a acordei. Assustada ela pediu pra deitar na cama e tentar ao maximo respirar fundo ao mesmo tempo massageava meu peito.
Quinze minutos depois voltei ao normal:
“mãe, que hora e agora?”
“já passa das quatro”
Voltei para a sala. Chuva continuava. Coração a mil. Preocupado.
Tentei ligar para o Renato, mas o celular continuava fora de serviço. Entrei na internet para ver se ele estava conectado. Não estava. E não havia outra alternativa, a não ser ligar para a casa dele em Angra. Estava muito preocupado.
Sofríamos um pouco com o nosso relacionamento pelo fato dele não ser assumido pra família dele, ou seja, namorávamos escondidos. OS pais dele eram muito rígidos e tentaram cria-lo a moda antiga. Era o caçula. “mimadim” como falava as vezes.
Nos dois primeiros anos brigávamos muito por isso, ate separamos uma vez. Eu não aceitava. Me sentia ruim, culpado, motivo de vergonha.
Juntei coragem e levei o telefone para minha mãe. Uma voz feminina as quatro horas da manha atrás do Renato seria mais aceitável que a minha.
Apos meia hora incansável alguém atende. Minha mãe logo depois perguntar por ele, arregala os olhos “o que? O que aconteceu?”. Ela levantou da cama e eu ficava ao lado aflito “o que aconteceu mãe?”. Ela andava pelo quarto. Ansiosa. “EU não posso acreditar”. Desligou o telefone. Estava no canto do quarto, de costas pra mim. Parada. Começou a chorar.
Fiquei com raiva que nem percebi que estava chorando. Fui ao seu encontro retrucando:
“por que desligou? O que aconteceu?”
Quando ela virou. Com os olhos já vermelho, lagrimas escorrendo, fiquei desesperado. Comecei a chorar… e ouvi nitidamente quando minha mãe falou no meu ouvido:
“Filho, muita força”
Meu corpo gelou dos pés a cabeça. Senti meu coração doer. Uma dor inexplicável. Chorei desesperadamente. Pude compreender com aquele abraço, aquele abraço tao acolhedor que o pior aconteceu.

O perdi.


Ainda sinto sua presença Renato.

Diego